Desapego

Nunca pensei que uma parede pessasse tanto
Ancorada em mim, como se desabasse,
Com manchas de suor, do calor do corpo,
Amarelas pela tinta do vazio.

Sem saber onde parar na próxima estrada,
Numa esquina da minha história,
Me vejo sentado no acostamento, observando a velocidade dos carros.
Me atropelam, me esfacelam, esmagam meu rosto;
Mas não tiram de dentro de mim essa ânsia pela noite,
Essa ansiedade que toma conta de mim.
E o medo, da morte, que mesmo no pior dos sofrimentos me incita
A dor mais intensa, a derrota mais certa.

Balbucio apenas, sozinho não desperdiço palavras com as paredes,
Mas testemunha as faço das linhas que escrevo
E dos acordes que crio,
Únicas, abóboras, presentes na maior parte da minha vida.

Anseio em ouvir: "Eu estava do teu lado quando estava no meio do caminho"
Pois de meio termo nada parece esse momento,
Derradeiro por dentro, internamente terminante.
Desejo apenas que seja só um caminho, e não um instante,
Quero mais que tua face, quero teu sorrisso.

Deito, sonolento, e sonho, sonhos mais reais que o que vivo.
De cores mais vivas, e ao toque mais espessos,
Não se desvanecem no tempo, nem desaparecem à distância,
Mas constróem mais nuvens que esperanças.

Posted at às 22:55 on 24/09/2010 by Postado por Forbidden | 0 comentários   | Filed under:

Mare Tranquillitatis

Nas recordações da morte é que se revela o poder,
Do testemunho de tal ato incontestável,
A infindável profundidade do olhar moribundo,
Mais próxima da terra que qualquer vivente
Como se agarrando firme as rebarbas do mundo.

Ao pensar mais uma vez naquele dia, me vejo
Frente a mais poderosa das forças naturais,
E cá estou, sobrevivente,
Fortalecendo a minha alma em pensar
Quão perto cheguei da Morte, ali, frente à mim,
Naquele rosto caído com um olhar tão ausente.

Ao dispor do fim estamos vivos, seguindo
Em direção a infinitude, por um fim estimagtizado.
A cada dia do longe mais nos aproximamos,
Um distante ao alcance de um medo,
Monstruosa força que atinge a tudo.

Mistura precisa de matéria orgânica e espírito etéreo
Separa íntima a morte os véus que cercam
A dor, a fome, a sede e o frio;
Da transcedentalidade do amor, do medo e da angústia.

Inspira o sofrimento, acende a chama do medo,
Na escuridão do desconhecido mergulha o enfermo,
Afoga sem luz os olhos incrédulos e trêmulos.

Poderosa Morte que de nada se acovarda,
Perfura a carne e busca na enfermidade o espírito,
Arrasta e afunda a matéria na eternidade
Da existência inanimada.

Posted at às 01:46 on 01/09/2010 by Postado por Forbidden | 1 comentários   | Filed under: