Moinhos de Vento

Ao norte eu vi moinhos,
Vi olhos que me fitavam descrentes,
Vi olhares estranhos, porém conscientes,
Vi seres de formas que eu desconheço,
Vi todas as cores e todos os selos.

Andei por entre árvores retorcidas,
Campos ermos e lamaçais,
Em alguns deles vi seres que me olhavam,
Em outros eles simplesmente me ignoravam,
Embora a maioria de mim não discordava,
Que seus olhares fixos me ardiam a alma.

Estático nos degraus,
Estava uma criança,
Que sutilmente parecia tentar me adentrar a carne,
Por entre os vão da minha alma,
E isso doia severamente,
Seus olhos eram lanças e seu rosto intocável.

No fim sentei longe do seu olhar,
Mas o peso dela me perseguia.
Até que um anjo a veio buscar,
E então eu a vi partir, sem me olhar,
Meus ombros sentiram um peso a menos.

Antes que eu me esquecesse dela,
Uma outra criança tentava tomar o seu lugar,
Como um peso, só que no meu peito.
Doia igualmente, só que ao invés de tentar entrar,
Essa tentava sair, e como estava muito profundamente fixada,
Seus movimentos feriam todo o meu corpo,
Cada gesto, por mais simples, era doloroso.

Mas depois de muito tempo sofrendo,
Finalmente resisti e consegui sufocar essa última,
De forma que pouco dói atualmente.
Os seres dos moinhos ainda me observam,
E vez em quando tentam me olhar,
Mas eu estou mais escondido,
Por entre as àrvores retorcidas.
O que eles escrevem é o meu abrigo,
E o que eles dizem me acalma.

Posted at às 17:52 on 18/12/2008 by Postado por Forbidden | 0 comentários   | Filed under:

Mar de Chamas

Sinto como se minhas lágrimas fossem ácidas e corroesem meus olhos antes que eu pudesse chorar...
Sinto como se te esperasse sendo que nem mesmo meu coração eu sei controlar,
Parece que estou imóvel diante de tudo, mas eu estou prestes a voar,
Com asas de pano, mas com ventos que me empurram e me chamam,
Meus olhos já não veêm mais a mim mesmo, só o meu interior
E assim eu choro lágrimas abstratas de dor,
E assim eu imploro por pedaços rasgados da partitura onde compus o nosso amor.
Choro por pedaços inúteis do que um dia chamei de razão da minha vida,
E que agora clamam por um fim irremediável ao sofrimento nessa ferida,
Que você rasgou no meu peito.

Eu sangro a imundice de uma finitude,
Gotejando aos poucos a sujeira que restou de um fracasso,
Sem você eu sou um mar sem céu,
Opaco, sem cor e profundo,
Inundado de seres sem corpo,
Afogado em facas sem corte,
Eu sou o que sobrou de um mundo,
Que ruiu vendo a sua morte.

Posted at às 13:18 on 01/12/2008 by Postado por Forbidden | 1 comentários   | Filed under: