Semblante lírico, eufemismo enfático: a tua voz ressoa por entre as paredes alvas cobrindo os quadros sobre telas frívolas; as mãos tacteiam o chão que se mantém imóvel nos raios alaranjados que uma tarde de Verão liberta. Nas minhas mãos imagino as tuas, as palavras cinzeladas no meu coração com uma escrita indecifrável à mente, nos meus olhos vejo os teus, reconheço-te nas entranhas do meu próprio corpo por entre os recantos de um passado recente. Provo o teu sabor aprazível sem sequer te saber, sonho com a tua essência que se mistura na minha: um refúgio de que te sinto, de que te tenho. A obra plasmada em mim desde que detenho um sorriso genuíno dos traços vermelhos escarlate; as gotas de água que apaziguam o tempo, reflexos de lágrimas de sofreguidão implemente e translúcida.
Num devaneio ascendente vislumbro a tua imagem que me incapacita de não ser inundado por luxúria e lirismo enquanto transportas em ti todo o subjectivismo poético. Mantenho-me imóvel de orbes fixadas no porte gracioso que te acompanha. De que me servem os lamentos supérfluos? Em ti tudo é encanto; o vento que me cala os pulmões enquanto me sinto atirado de uma falésia embate e resfria as lágrimas unilaterais que o meu coração chora e a minha mente sufoca. No toque que se agregará aos sentidos, sinto-te a desfazer como mil estrelas ao toque tímido como se de água te tratasses. Estagnas a dor que inundaria o mundo, sossegas todos os complexos interiores à medida que soltas notas sem ritmo e conexão, apenas com a sensibilidade que te corre nas veias e bate no teu coração: inundas o ar. A submissão induz-me ao seu ápice no silêncio monocromático: o meu pesamento é lambido pelas chamas.
Logo desapareces para o suplício recomeçar, afundo-me no pranto da insolência e acorrento os olhos no semblante sereno do horizonte, com uma nova manha virá um sonho nunca esquecido. Aguardo no declive da esfera que nos contem em linhas rectas onde o silêncio persiste; eu não falo, talvez por opção, enquanto o sentimento amedrontado me aquece; tu não falas. Os traços são ténues, como que seguimentos de desejos e memórias traçados a grafite em folhas soltas que sobrevoam no ar. Forço os meus pulmões a respirarem inertes sobre o teu olhar, enquanto a carne é rasgada pelo desejo lânguido de ser algo mais que um fantasma nos teus braços. Dou-te as palavras e os meus pecados, dou-te a ti, pois há ensejos proporcionados pelo tempo retirei do meu interior tudo o que não te pudesse pertencer. Consternas-me de toda a razão, a minha sentença de te sentir é perpétua.
08/04/2008
Ruben (Magykeiser)
Obs: Texto para o For, que tanto fala do meu vocabulário de português culto (xD)
Le Désir
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- Published:
- às 17:22 on 29/04/2008
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- Cicatrizes do Rubens
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