Diagnósticos Urbanos, Pt. 1: Loucura

Andando pela cidade em um dia de sol glacial, vagabundeando entre uma aula inútil e outra menos interessante ainda, deparei-me com diversos tipos de "loucos". São aqueles tipos de pessoas que falam sozinhas no ambiente urbano, divertem-se a sós enquanto o resto do mundo lamenta seus próprios problemas em conjunto, mas principalmente você tende a odiar. De tantos tipos e hábitos diferentes resolvi catalogá-los em uma pequena lista, priorizando a visão de mundo de cada um.

Tipo 1 – Os Crentes Fanáticos

Famigerados?

Mais que isso, nem os crentes próprios os agüentam. Perguntam coisas como “Você acredita em Deus?”, “Você Lê a Bíblia?”, “Você já foi a Igreja?” ou o clássico, “Oi, posso tomar um segundo de seu tempo?”. No fim das contas eles acabam por entrar na categoria de “loucos” por terem de gritar para serem ouvidos, já que a pura chateação corpo-a-corpo não basta.

Mas, vamos tentar entender a visão de mundo desses indivíduos. Será que as perguntas capciosas e diretas que eles fazem não são apenas questões mal resolvidas dentro deles mesmos? Quantas vezes nós também não fazemos coisas parecidas, instigamos os outros a responder dúvidas que nós mesmos cultivamos... Talvez isso seja até terapêutico, mas como vemos estampado nas faces de dúvida das suas próprias convicções, os crentes fanáticos não usam um bom método para serem felizes.

Tipo 2 – Os Bêbados

Bêbados é aquela raça que vive como nômades de bar em bar, procurando fugir da rotina diária numa rotina quase horária de beber o mesmo copo com o mesmo conteúdo, no mesmo lugar, e com os mesmos bêbados envolta. É aquele tipo que parece nunca estar sóbrio, embora em alguns momentos de bebedeira consiga até conversar algo inteligente. Aliás, bêbados são inteligentes ao extremo. Lembro-me de um que eu ajudei uma vez, que não sabia onde estava. Na verdade ele estava a 100 metros do bar onde havia acabado de beber, mas achava estar a quase 40 km de lá, em uma cidade vizinha. Apesar do péssimo senso de direção, o cara conseguia fazer uma descrição quase cartográfica de ambas as cidades. Além disso, enquanto o carregávamos para casa, ele nos agradecia imensamente, em lágrimas etílicas. Dizia ainda que beber não o levaria a lugar nenhum, que se drogar também era uma merda, e coisas do gênero. Ou seja, muito mais ajuizado que qualquer bebê de 14 anos bebendo vodka com suco Tang nas praças de todo o Brasil. Só que ele não se ouvia...

No fim das contas, entendi que os bêbados simplesmente não se ouvem.

Tipo 3 – Malucos

Malucos clássicos são os que dançam, gritam, pulam ou discursam sozinhos e nos primeiros caos, sem música alguma. Normalmente tem cabelo cumprido, vestem trapos e costumam ser ignóbeis a qualquer ação externa. Embora todos passem longe deles, os que passam perto não são nem mesmo olhados. Na cabeça dele, ele está sozinho.

Lembro-me de um caso famoso aqui na cidade, o célebre “Away de Petrópolis”. Hoje famoso por suas aparições da MTV (Mantendo Teenagers Viadinhos), ele era um exemplo típico dessa classe de loucos, que povoou minha infância. Vê-lo dançando sozinho e com demasiada habilidade, fez-me sempre pensar “poxa, por que ele não é chamado pra dançar em algum lugar mesmo”. O motivo era simples, ele era um maluco. E Malucos são excluídos por natureza. Até que o chamaram para a TV, ou seja lá o que aquela merda for, e ele se deu bem, até por manter o estereotipo de maluco.

O que se conclui de lógica, é que ele não somente dançava bem, como tinha potencial a atuar, decorar textos, ser engraçado e todas essas coisas. Mas é um maluco que você não deixaria perto de seus filhos.

Tipo 4 – Leitores de Jornal

Esse é um dos mais interessantes. São aqueles mais “underground”, que não só lêem o jornal no meio da rua, normalmente no meio de onde passa carros (redundância importante), mas também comentam cada noticia diversas vezes e em berros.O interessante é que tudo faz sentido, cada idéia mais interessante que outra. Ainda não vi um professor de faculdade ser mais sensato que um louco na rua falando sobre a China, com o seguinte argumento “Esses chineses são todos iguais mesmo, eu tenho nojo de americanos, e brasileiro não é corrupto, só não é trouxa”. Reparem na concordância, não fui eu quem coloquei, ele mesmo em seu estado “alterado” tinha um belíssimo português.

Conclusão:

Loucos são muito mais inteligentes que a população. Clichê? Talvez, mas é um fato. E o que me estressa é que por serem tão superiores ninguém os ouve. Atitude inteligente não?

Talvez os loucos estejam certos. Eles fazem o que querem, aonde quiserem, e são felizes. Não têm medo de fazer nada, seja o que for. Loucos amam, e não tem vergonha.

Por que há coisas que não basta ser racional, é preciso ser um tanto louco... E é essa loucura que as vezes me falta.


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1 comentários:

  1. AlxSeth 16 de maio de 2008 às 16:20

    Grande!

    Como eu disse, um dia vc vai ser sucesso nos livros de Auto-ajuda.

    ótimo texto, quisera eu ser louco e viver no meu próprio mundo! \o/