Moinhos de Vento

Ao norte eu vi moinhos,
Vi olhos que me fitavam descrentes,
Vi olhares estranhos, porém conscientes,
Vi seres de formas que eu desconheço,
Vi todas as cores e todos os selos.

Andei por entre árvores retorcidas,
Campos ermos e lamaçais,
Em alguns deles vi seres que me olhavam,
Em outros eles simplesmente me ignoravam,
Embora a maioria de mim não discordava,
Que seus olhares fixos me ardiam a alma.

Estático nos degraus,
Estava uma criança,
Que sutilmente parecia tentar me adentrar a carne,
Por entre os vão da minha alma,
E isso doia severamente,
Seus olhos eram lanças e seu rosto intocável.

No fim sentei longe do seu olhar,
Mas o peso dela me perseguia.
Até que um anjo a veio buscar,
E então eu a vi partir, sem me olhar,
Meus ombros sentiram um peso a menos.

Antes que eu me esquecesse dela,
Uma outra criança tentava tomar o seu lugar,
Como um peso, só que no meu peito.
Doia igualmente, só que ao invés de tentar entrar,
Essa tentava sair, e como estava muito profundamente fixada,
Seus movimentos feriam todo o meu corpo,
Cada gesto, por mais simples, era doloroso.

Mas depois de muito tempo sofrendo,
Finalmente resisti e consegui sufocar essa última,
De forma que pouco dói atualmente.
Os seres dos moinhos ainda me observam,
E vez em quando tentam me olhar,
Mas eu estou mais escondido,
Por entre as àrvores retorcidas.
O que eles escrevem é o meu abrigo,
E o que eles dizem me acalma.


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