Subterfúgio

Amargura das tuas dores
Expostas em chagas carnais,
Eu não respiro mais o mesmo ar que ti,
Eu me recuso a pensar no mesmo que ti,
Eu me recluso ao meu esquecer...

Dê-me outros motivos que não a dor pra te rever,
o masoquismo de sentir de novo o agudo grito da morte
Teus dedos me lembram garras, que cortam minha pele
Meu coração é fogo fátuo que queima gelado dentro de mim,
Forçando-me a expulsar o calor pela boca...

Asas rasgadas boiam no teu mar,
Dos anjos que te tanto rodear-te, caíram,
E queimam nos teus dedos.

E é o amor, o mesmo que me consome,
Que me leva ao asco de te ver...
Onde seria possível entender,
Que uma criatura me fizesse tal bem,
Para depois me afogar no mal?

A guerra é o meu subterfúgio,
O eterno sofrimento de me desculpar.
E a cada frase ver nos teus olhos escrito:
"Você não era assim".
E com cada olhar te responder:
"Foi por tua causa que me transformei"...

E ainda ver-te admitir, e impotente desertar
Deixando em mim as chagas a curarem por si só...


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