Bêbados

Inspiro o ar etílico dos bafos da esquina,
Que se aproxima tão sedutora.
Revejo no copo a expressão intimista dos animais,
Que viviam em seu colo, me enciumando,
E entrelaço pernas em imundícies urbanas.

É no olhar embriagado que encontram conforto,
Na poesia das roupas rasgadas e do chão sujo.
Na fumaça que respiram,
na sede alcóolica que transformam em riso,
Nas nuvens de águas calmas em um céu de turbidez.

Apesar do beijo incômodo ao pé do ouvido,
E aquele ar impuro tomando conta dos meus pulmões,
O abraço puro e o olhar estrábico denunciam
A pureza de um agir inconsequente,
Que ciente de todas as punições trivias da existência
Totalmente responsável, prefere o tardio porre pubescente
Que só termina sob portas de latão e chuva fina.

Invejo essa alegria insensata,
Muito mais consciente que atitudes calculadas.
Aguardam a manhã fria confortáveis,
No berço pútrido do asfalto,
Gemem de gozo pelo acalento do torpor,
Que termina no raio de sol que os invade as pálpebras.

Felicidade do não-pensar, da ignorância voluntária,
Abraça a tua prole e dá-lhe abrigo.


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1 comentários:

  1. Ever 4 de agosto de 2010 às 18:59

    eu também invejo essa alegria que eles tem...