Nič

Sinto falta do frio do sereno,
do barulho do asfalto em atrito com os pneus.
Sinto falta do sol da manhã e do figado esmagado,
a felicidade firme dos amigos envolta.

Sinto falta dos beijos ao acaso,
do perfume desconhecido na minha blusa,
da noite exausta com o sono, não só tranquilo,
como ansioso pela manhã seguinte.

Mas o que mais falta não são momentos,
e sim o futuro, pois este me falta na mente,
o destino das coisas, o sentido das coisas,
antes tão simples e linear,
hoje sinto como se fosse uma estrada com fim
e fim este que quase posso tocar com as mãos.

Corta profundamente entre meus olhos
a faca da rotina e da pressão cotidiana
esta que me finca o cérebro o tempo inteiro,
me tirando até o sono, o sabor da comida.

Queria eu ainda ter o tempo que tinha,
para amar e para sofrer; tudo que tenho agora é
"tenhos" e "precisos", e todos urgentes ou vencidos.

Eu não precisava de tantas respostas, mas ainda tinha as mesmas dúvidas;
Só que não havia pressa, não havia medo, não havia o nada;
o nada te consome mais que tudo, te domina numa imensidão de vácuo.

Em minha mente posso ver duas cenas distintas:
Uma imensidão de branco, profundo, retido por paredes que quase posso ver,
mas muito bem imagino,
E uma pronfundeza negra, que se estende em todas as direções, e
apesar de serem as duas um nada monocolor e infinito, no negro de outrora
eu me sentia livre, a sensação era de cair sem volta, mas eu me sentia grande;
Já o branco de hoje me encarcera, me encolhe, me tortura,
como se claustrofobicamente me dominasse, e eu olhasse envolta, e só visse paredes
e isso me fizesse ficar completamente imóvel, contemplando o branco,
com medo de tudo diminuir ainda mais e dor me esmagar,
e ao invés do sereno cair no nada negro e profundo da imensidão do escuro,
eu me sinto com medo, preso e sem ter pra onde ir, nem pra onde olhar.


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