lágrima

as palavras pecaram-me.
comeram de mim enquanto gritavam pelo ar "eu não te quero, eu digo que não te quero e de noite, de noite sonho contigo" [lágrima] ragando-me.

arranham-se as costas no momento em que gemidos de prazer enfeitam o ar em silêncio, demasiado púdico. duas línguas numa boca sem dentes leitosos a escorrer pelos corpos prazerosos e exaltados no abraço lânguido e necrótico. comem-me o corpo e consomem-me o espírito porque não têm um. violam-me ao todo ao sabor da minha vontade que urge pelo grito entreaberto das prostitutas que rastejam no chão da cidade em volta da rotunda decadente; bem como as gotas de água que se entranham nas diácleses das casas de pedra branca.
purgo-te da minha mente com tudo o que me sobeja e mantenho-te dentro da minha cabeça, à medida que corro pelos becos fechados da calçada gasta e cantam em algum bar.
"eu não te quero, eu digo que não te quero e de noite, de noite sonho contigo"


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