O que eu (não) estou vendo pelo vidro

Minhas pernas inquietas me condenam;
Elas só se acalmam com teu rosto...
Jamais me vi sentindo falta tua na penumbra,
Mas me vejo agora, caçando cheiros numa coberta usada...

Não há mais noção de tempo,
Exceto na tua ausência (que me é quase todo o tempo);
Não houve nenhum esforço meu, ao menos...
E ainda dou-me o direito de ter dúvidas,
Que são culpa minha em restringir nossos momentos
À fins de noite e complementos...

Não espere mais abraços como cumprimentos;
Lhe darei beijos e carícias logo que nos virmos.
Quero que sinta que não me acanho de pouca gana,
O que me prende é sim a intensidade, a minha imaturidade,
E a diferença que tu tens diante das outras,
Com as quais talvez agisse diferente, contudo;
Sem sentir frio por não ter seu corpo a me aquecer durante a noite,
Sem sentir vontade de sentir teu cheiro impregnado em minhas roupas,
E sem a incerteza que - de leve - me atormenta.
Qualquer dúvida, por mais complexa que pudesse o ser,
Não teria a menor importância.

Queria eu que a sensação de ser o momento nosso
Durasse mais que uma noite ou um dia...
Mas por outro lado,
Nada muda quando te revejo o sentimento de alegria,
Ou a complacente conversa que as vezes temos
E que nos harmoniza...

Então me sento em frente ao vidro,
E cantarolo músicas em Dó em nona;
Que são as mesmas notas com as quais chorei e sofri...
Mas que, seja por quanto tempo for, agora lembram teu sorrir...


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