Combustão/Momentos

Arde o peso das grades sem peso,
Das chamas sem calor, das facadas sem dor
Pernoitam ao meu lado os mesmos medos,
As mesmas fúrias e os mesmos desejos
Que és, que me fere tanto sem pensar
Com essa sua confusão que combusta no ar,
Esse espinho que perfura indolor
A carne que beijas sem sentir exatamente amor?

Arrasto meu coração sobre as farpas do teu corpo,
Tento buscar nos meus sonhos o amor que falta de ti
Tento encontra-lo em palavras já ditas,
Busco razão no tempo e na esperança em si;
Esta que me trouxe até agora impulsionada
Pela combustão do que sinto,
Neste motor - envelhecido e enferrujado - alojado em meu peito;
Sinto sua falta, ainda que minto
Não sinto mais o mesmo que sentia,
Mas sofro a cada partida sua, a cada lágrimas, a cada despedida.

Sinto, mas nem sinto mais
Como ferida que se anestesia de tanta dor.
Me penetram as armas de todos os lados
Me ferem as palavras de todas as bocas,
Tento não ter suas atitudes como loucas,
Embora sucumba lentamente ao senso comum
Deito minhas armas no chão
E simplesmente aguardo o fim do espetáculo
Evitando sentir todos os beijos como sendo apenas mais um
Assisto todo o tempo passar, todo o tempo
E não me arrependo, embora as vezes tema por temer
Brigas, medo e insegurança,
Como eu queria que fosse diferente,
Se sempre o foi assim, em sua antiga insignificância?

Me deito do teu lado e abraço teu corpo sonolento,
Amo cada parte do teu corpo, de ti sou alimento,
Que devoras sem cessar nenhum momento
Sem parar um instante, nem que te faltasse alento,
Me sinto como se procurasse falhas no firmamento,
Onde quero encontrar erros, talvez apresse demais o tempo,
Impaciente, vejo no leve duvidar razão de sofrimento;
Aprender a crer em nós deve ser teu maior ensinamento
Costura minha alma, teus beijos são meus remendos
Como é estúpido duvidar de todo esse sentimento;

Palavras que ferem, mas desferem, saindo da mesma boca
Que me beija, que me acarinha os lábios
Espero o tempo passar, e que passando traga paz,
E tranquilidade, força intensa que acalenta o vassalo mais tenaz
Me aninho no teu colo e não me preocupo mais.


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2 comentários:

  1. André Coribe 13 de fevereiro de 2010 às 12:36

    Muito bom.


    "Arrasto meu coração sobre as farpas do teu corpo,
    Tento buscar nos meus sonhos o amor que falta de ti
    Tento encontra-lo em palavras já ditas"

    Cada um acredita e vê o que quer

     
  2. Polly 17 de fevereiro de 2010 às 12:47

    Adorei.
    Uma escrita muito bela!